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Christina Hendricks |
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Kate Moss |
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Kate Moss |
Deixei dinheiro pra me visitar
Te dei meu sangue pra você pintar a parede da sala de estar (mas não tem volta)
Te dei meu tempo pra você usar da forma que você bem entender
Mas eu nunca disse meu amor, que era de graça
Tem algo que eu sempre precisei
Secretamente eu requisitei
E até quando eu comecei a gritar (você não me ouviu)
E eu me contento com o que sobrou, eu como o pão que o diabo amassou
Mas eu não divido com você nem um segundo do que me resta a viver
Ninguém mais pode me ouvir, ninguém mais pode me parar
Chegou a hora de gritar (wooooah)
Tudo o que eu tinha se acabou e foi você quem me tomou
Que cara você vai fazer quando a sua casa desabar
Um dia desses acordei, não conseguia respirar
Enquanto não cuspisse tudo o que eu tinha pra falar
Na sua frente, na sua cara, tudo o que eu sei que você é
O que você esconde atrás desse sorriso torto de quem não sabe como é
Olhar pra frente e ver que não dá pra onde ir e saber que o seu lugar é muito longe daqui
Meu mundo é muito maior, seu mundo é uma mentira que você mesmo inventou
Ninguém mais pode me ouvir, ninguém mais pode me parar
Chegou a hora de gritar (wooooah)
Tudo o que eu tinha se acabou e foi você quem me tomou
Que cara você vai fazer quando a sua casa desabar
Mas olha só pra você ficou horrível sem mim
Achou que ia arrasar mais de mil caras afim
Mas qualquer um pode ver que você é de mentira (que só eu mesmo acreditei)
Ninguém mais pode me ouvir, ninguém mais pode me parar
Chegou a hora de gritar (wooooah)
Tudo o que eu tinha se acabou e foi você quem me tomou
Que cara você vai fazer quando a sua casa desabar
[...] Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu no conservatório do céu. Rival de Miguel, Raiael e Gabriel, não tolerava a precedência que eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico. Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se teria passa do sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera do qual abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio da sua eternidade. Satanás levou o manuscrito consigo para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros, e acaso para reconciliar-se com o céu,--compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la ao Padre Eterno.
--Senhor, não desaprendi as lições recebidas, disse-lhe. Aqui tendes a partitura, escutai-a emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés...
--Não, retorquiu o Senhor, não quero ouvir nada.
--Mas, Senhor...
--Nada! nada!
Satanás suplicou ainda, sem melhor fortuna, até que Deus, cansado e cheio de misericórdia, consentiu em que a ópera fosse executada, mas fora do céu. Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes, primárias e comprimárias, coros e bailarinos.
--Ouvi agora alguns ensaios!
--Não, não quero saber de ensaios. Basta-me haver composto o libreto; estou pronto a dividir contigo os direitos de autor.
Foi talvez um mal esta recusa; dela resultaram alguns desconcertos que a audiência prévia e a colaboração amiga teriam evitado com efeito, há lugares em que o verso vai para a direita e a música, para a esquerda. Não falta quem diga que nisso mesmo está a além da composição, fugindo à monotonia, e assim explicam o terceto do Aden, a ária de Abel, os coros da guilhotina e da escravidão. Não é raro que os mesmos lances se reproduzam, sem razão suficiente. Certos motivos cansam à força de repetição. Também há obscuridades; o maestro abusa das massas corais, encobrindo muita vez o sentido por um modo confuso. As partes orquestrais são aliás tratadas com grande perícia. Tal é a opinião dos imparciais.
Os amigos do maestro querem que dificilmente se possa acha obra tão bem acabada. Um ou outro admite certas rudezas e tais ou quais lacunas, mas com o andar da ópera é provável que estas sejam preenchidas ou explicadas, e aquelas desapareçam inteiramente, não se negando o maestro a emendar a obra onde achar que não responde de todo ao pensamento sublime do poeta. Já não dizem c mesmo os amigos deste. Juram que o libreto foi sacrificado, que a partitura corrompeu o sentido da letra, e, posto seja bonita em alguns lugares, e trabalhada com arte em outros, é absolutamente diversa e até contrária ao drama. O grotesco, por exemplo, não está no texto do poeta; é uma excrescência para imitar as Mulheres Patuscas de Windsor. Este ponto é contestado pelos satanistas com alguma aparência de razão. Dizem eles que, ao tempo em que o jovem Satanás compôs a grande ópera, nem essa farsa nem Shakespeare eram nascidos. Chegam a afirmar que o poeta inglês não teve outro gênio senão transcrever a letra da ópera, com tal arte e fidelidade, que parece ele próprio o autor da composição; mas, evidentemente, é um plagiário.
--Esta peça, concluiu o velho tenor, durará enquanto durar o teatro, não se podendo calcular em que tempo será ele demolido por utilidade astronômica. O êxito é crescente. Poeta e músico recebem pontualmente os seus direitos autorais, que não são os mesmos, porque a regra da divisão é aquilo da Escritura: "Muitos são os chamados, poucos ao escolhidos". Deus recebe eu ouro, Satanás em papel. [...]
Dom Casmurro, Machado de Assis
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